[conto] Rosas de Sangue

“Antes de eu ler aquela carta estava tudo tão perfeito; éramos felizes. Nas terras conhecidas como ”O País das Lâminas Gritantes”, nos tornamos famosos por sermos dentre tantos, o único e mais sanguinário casal de mercenários...”

conto Rosas de Sangue - contos de fantasia

            Quando cruzamos nossas espadas pela primeira vez, você disse: “Sou uma mulher difícil. Perderás muito sangue até me conquistar e se queres passar o resto de sua vida ao meu lado, não deves temer o fato de um dia acordar morto”.

            Talvez aquelas palavras tenham sido sua maior arma contra mim. Maior até mesmo do que sua esplêndida e tão afiada “Ceifadora de Sonhos”.  Aquelas palavras deceparam todos os meus sentidos e não tive mais forças para enfrentar tão admirável mulher. Pela primeira vez, eu tinha sido derrotado e sem ter tido nenhuma oportunidade de desferir um golpe se quer.
            Vivemos loucos e maravilhosos momentos, onde nos amamos, assassinamos e até quase morremos. Achei que tudo iria durar para sempre. Que tolo eu fui!

            No dia destinado, após ter lido sua carta, parei por três segundos, em nada pensei nesse curto espaço de tempo; em seguida, um único sentimento tomou conta tanto de meu coração quanto minha alma: Ódio. Esse ódio representava tudo que senti depois que terminei de ler sua carta. Desespero, dor, saudade, tristeza... Por que acabar tudo assim? 

            E no fim, você diz que tudo será terminado logo no lugar onde nos encontramos pela primeira vez! Movido pelo mesmo ódio que me devorava a cada segundo, resolvi aceitar seu convite para nosso derradeiro encontro. Levarei também um belo buquê de flores colhidas por mim mesmo.

conto Rosas de Sangue - contos de fantasia

            
               Em nosso último e fatídico encontro, você estava infinitamente mais linda do que o dia em que trocamos nossas primeiras juras de paixão. Porém, é uma pena que agora lhe vendo com a aparência da encantadora deusa da lua, limito-me a apenas admirá-la de longe. Jamais poderei novamente experimentar o doce sabor dos seus lábios, muito menos unir meu corpo ao seu e sentir o selvagem calor de nossas almas.

            As únicas coisas que hão de experimentar algo nessa história, não com leves e carinhosas carícias, mas com furor, desespero e ira são nossas geladas lâminas. Elas decidirão o destino de nosso último encontro. Aqui; hoje; agora. Nesse vazio e melancólico cenário, onde apenas encontram-se o que sobrou de uma grande árvore antiga. E esse solo recém-umedecido por uma chuva que nunca conheceu a palavra “misericórdia”, pois cada gota – das poucas que caíam do céu – desabava sobre nossos corpos como as farpas do gélido Inferno de Niflheim. Em minha, mão direita está a “Lâmina do desespero”. 

          E ela fará por mim o que não pude expressar apenas com palavras ou versos poéticos. Meu ódio é grande de mais para isso. Enquanto na outra mão está o buquê de flores recém colhidas. Porém não desta vez para lhe agraciar ou arrancar doces sorrisos, mas sim para seu velório. Se não for minha, então não será de mais ninguém! Nada mais justo terminar nossa história dessa maneira. Afinal, somos mercenários impiedosos, ainda mais quando amor e orgulho estão envolvidos. 

Enquanto vinha pelo caminho do nosso encontro pensei que mesmo você não contando os motivos desse desastroso final, só tenho uma certeza: Traição!
Pior do que trair o coração de um homem é trair o coração de um mercenário.

conto Rosas de Sangue - contos de fantasia


            
            E como já imaginava, o duelo que daria fim ao nosso implacável romance foi inesquecível; a cada colidir de nossas armas meu coração correspondia com uma forte batida. Uma épica batalha de ódio e paixão. Só não pensei que quem caísse primeiro fosse eu. 
                  Antes de perder minha visão para as trevas, ainda pude ver mais uma vez seu lindo rosto, só que dessa vez com um corte deixado por mim. Seus olhos que profundamente me acompanhavam enquanto eu lentamente caia, não expressavam nenhum tipo de sentimento.

                 Pela segunda e última vez, fui derrotado. Mas não apenas pela sua “Ceifadora de Sonhos”, mas por aquele sentimento que mesmo eu possuído por tanta fúria, não pude deixar de sentir... Mesmo quase certo de que você fez isso por traição, ainda fico me perguntando porquê tinha que acabar assim? E por que essa sensação de incerteza que esmaga meu peito e dói mais do que os profundos cortes que você deixou em mim? Eu não entendo...

Vou embora sem nem ao menos ouvir uma palavra sua.

conto Rosas de Sangue - contos de fantasia


“As palavras a seguir foram proferidas da boca de uma mercenária que acabara de ficar solitária”:

Mesmo que tenha sido um encontro tão sangrento, uma noite tão fria quando a própria chuva que caía, e seu ódio me devorando a cada segundo, não consigo esquecer o quão belo era o último buquê de flores que trouxe para mim. Rosas brancas sedosas, frágeis, vívidas. Que em questão de pouco tempo se tornaram vermelhas com um excitante banho de sangue. Como uma virgem que é violentamente deflorada.

O motivo do seu ódio foi uma traição que nunca existiu. A razão pelo qual eu resolvi por um fim em tudo foi justamente um fim pior que estaria próximo. Devido aos nossos próprios atos, todos os outros mercenários deste país decidiram se unir para acabar com nós dois. 

Como nem sempre podemos agir juntos por causa de nossos contratantes então uma emboscada tinha sido armada para quando estivéssemos agindo separado. Mas quando descobri isso já era tarde de mais! Não tinha muito o que pensar e eu jamais suportaria a ideia de ver você ser morto por qualquer outra pessoa que não fosse aquela que te ama.

Eu fiz tudo isso porque eu te amo! E levarei comigo o buquê de flores para quando o meu dia chegar, levarei ele junto e quando do outro lado nos encontrarmos novamente, lhe presentearei com o mesmo buquê pintado com seu próprio sangue e continuaremos pela eternidade nossa sangrenta história de amor.         

conto Rosas de Sangue - contos de fantasia
                                                             


4 comentários:

  1. Conto sedutor... Confesso que comecei a leitura das primeiras linhas fortemente tentada a não concluí-las devido ao cansaço e horário, mas não consegui.
    Pareceu-me um conto de fadas às avessas, surreal. Gostei.
    :)

    Um abraço Carlos. E bom FDS!

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  2. Seduzir era uma de minhas principais intenções ao escrever esse conto, cara Michele...

    E o surrealismo é uma de minhas fontes de inspiração.
    Obrigado por duelar com o cansaço pela leitura viu :~)

    Ótimo FDS pra ti também!

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  3. Me surprendi com esse conto, e fiquei triste, o conto de fadas às avessas, como diz a Michele é sedutor e me deu medo.

    ...É isso¨¨ me deu medo, o amor se transformar em ódio, sei não: matar ou ferir por amor, acho que já fiz algo parecido, mas não real, *surreal, sim.)
    O final é surpreendente e bonito de ler, o buquê de flores ainda está a esperar um novo encontro, oh, será! Só você pode entender o que se passa na cabeça, pois escreveste ...#não sei mais "de nada, viu, melhor esquecer! Ótimo escrito!
    Quase perdi!
    Um forte abraço da Mery*))

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  4. Ah cara Mery...

    Em uma história de amor, sensações de medo, ódio, ou qualquer outra, são apenas formas digamos "diferentes" de expressar o sentimento maior.

    E sobre o novo encontro, eu não sei... As vezes nem eu mesmo entendo o que passa, porque depois que dou vida a meus personagens, eles adquirem personalidade própria e fogem do meu controle rsrs. Agora cabe a imaginação de cada um decidir o próximo encontro.

    Obrigado pela visita e que Deus lhe abençoe Mery ^_^

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