[conto] Quando Ele Começou a Gostar da Chuva - Parte 2

Sou meio cético em relação a essas coisas, mas muitos dizem já ter a visto ela fazer “milagres”. Muitas mães levavam seus filhos a ela que segundo as próprias, já desacreditadas pelos médicos, não havia cura para as doenças.
         E essa “curandeira”, se tornara a última esperança para àqueles com uma enorme fé em seu poder de erradicar os males das pessoas.
Mas o que me surpreendeu um pouco no momento foi saber que a tal curandeira havia morrido de desgosto. Desgosto por não conseguir curar a doença de uma pessoa, ou melhor, de uma criança que de tanta tristeza que sentiu, contraiu uma impiedosa tuberculose que nenhum médico ou remédio e muito menos uma curandeira de rua puderam curar. Fico imaginando o que levou uma criança a sentir tanta tristeza a ponto de contrair tuberculose e falecer...
         Talvez, seja algo parecido com o que a curandeira sentiu ao ver que seria impossível para ela curar a criança; uma tristeza tão grande e inconsolável que de forma implacável lhe arrancou a vida.
         Claro que fiquei chocado com tudo aquilo que aconteceu, mas o fato de eu estar de volta para minha família falava mais alto. Então, depois de ter minhas roupas encharcadas pela aquela gritante e intensa chuva, abri o portão; a porta estava aberta. Provavelmente deixaram aberta para mim e estão aprontando alguma surpresa... Fico imaginando a cara dos dois quando me verem e a minha quando ver meu filho um ano mais velho. Como pude perder momentos tão preciosos? Compensarei isso ao máximo passando tempos maravilhosos com minha família.
         Mas ao entrar, ainda não via o garotinho. Porém, para um menino de seis anos seria normal ele estar brincando de se esconder para me pregar o maior susto; ri nesse momento pensando nisso. E o melhor lugar para uma criança se esconder seria? O quarto é claro. E fui direto para lá; molhando toda casa com os pesados pingos que caíam da minha roupa. E chegando no quarto encontrei não o meu garoto, mas a minha esposa; sentada na cama, encolhida e cabisbaixa. Tanto tempo distantes até eu me sentiria solitário daquele jeito e quando cheguei perto dela para levantar seu rosto percebi uma expressão que já mais imaginei ver no mais aterrador dos meus pesadelos: não havia palavras no mundo para descrever o quão medonha era aquela face. E como se não bastasse, essa mesma face tornou-se ainda pior quando no meu último suspiro de ânimo perguntei a ela: “Querida, o que aconteceu? Onde está nosso filho?”; e foi nessa hora que ela libertou um único e desesperado grito para desmaiar em meus braços logo em seguida. Como se não tivesse coragem de responder com palavras algo que para mim tinha acabado de se tornar óbvio...
       
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Toda aquela chuva realmente tinha um significado; seja para todos que moravam naquela rua, mas principalmente para mim. E diante de acontecimentos tão cruéis infelizes, uma pessoa que sofresse tal experiência, passaria a odiar dias chuvosos como o daquela noite, mas eu não. Pois confirmei naquela mesma noite que aquela crendice antiga no qual me contaram há muito tempo, era uma grande verdade: um dia com uma chuva que faz você se sentir como eu me senti naquela noite, significa que alguém muito bom e querido para você, deixou esse mundo; mas que apesar de esse alguém ter partido, mais que a tristeza, ele deixou algo de bom para esse mundo: as coisas boas que foram feitas e os momentos felizes que foram vividos.

Fim

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