Parte Final
Nem
mais uma palavra saiu da boca da criança. Naquele instante o que saia era
apenas sangue. Porque depois que ele mostrou o inconsciente cãozinho ao senhor
no qual ele sem querer tinha esbarrado e começou a contar o ocorrido, foi
interrompido por um soco que pareceu ter sido desferido por um pugilista
veterano. O garoto foi arremessado no chão; mas mesmo assim ele não soltou o
cachorro. Em seguida, outras pessoas se aproximaram para ver o que estava
acontecendo. Numa explosão de fúria, o senhor desabou uma tempestade de
palavras no ouvido da criança:
― Seu
maldito! O que você fez com o pobre cachorro dos Martin! Fazer isso com uma
criatura inocente! Não é atoa que você nasceu assim! Um monstro mesmo! Porque
logo nossa rua tinha que ser amaldiçoada pela presença de uma criatura perversa
e bizarra como você? Hoje você vai pagar pelo que tem nos feito!
Não tenho nem um pouco de vontade de
descrever com detalhes as atrocidades que foram feitas com aquela criança
naquele dia. Mas posso dizer a vocês que o fato de ele ter sobrevivido me fez
pensar que milagres realmente existem. Podem pensar nas piores humilhações que
um menino como ele pode passar e acho que ainda assim não chegarão perto do que
realmente o pobre garoto experimentou.
Vários
de seus ossos foram quebrados, o corpo ficou coberto por diversas escoriações;
o lado esquerdo de seu rosto ficou tão inchado que cobriu boa parte do olho.
Sem contar que algumas das pessoas ainda cuspiram nele.
A
ferocidade daqueles indivíduos era comparada a de animais selvagens. Homens,
mulheres e até mesmo dois adolescentes fizeram parte daquela descontrolada e
violenta sessão de tortura. E o mais assustador neles eram os olhares
ensandecidos de satisfação enquanto espancavam a criança.
No fim, depois de saciarem sua sádica sede de violência, cada um foi para seu lado. Alguns conversando com outro, alguns em silêncio. Mas todos com largos sorrisos de escárnio pregados no rosto como se tivessem feito sua boa ação do dia. Antes que o menino perdesse a consciência, ainda teve uma última ponta de fôlego dessa vez não para gritar; mas para dizer em um tom tão baixo que apenas os mortos podiam escutar: “Salvem o cachorro...”
No fim, depois de saciarem sua sádica sede de violência, cada um foi para seu lado. Alguns conversando com outro, alguns em silêncio. Mas todos com largos sorrisos de escárnio pregados no rosto como se tivessem feito sua boa ação do dia. Antes que o menino perdesse a consciência, ainda teve uma última ponta de fôlego dessa vez não para gritar; mas para dizer em um tom tão baixo que apenas os mortos podiam escutar: “Salvem o cachorro...”
O cachorro morreu. Morreu por culpa
daqueles que acreditam serem os grandes exemplos de pessoas da Rua Ricchie.
Pessoas... É difícil se referir a esses indivíduos como pessoas; com um
comportamento digno de criaturas irracionais e perversas, o título que cabe a
eles com certeza não é o de pessoas. Então me diga: quem são os verdadeiros
seres humanos? E quem realmente são os monstros nessa história ridícula?
Após o menino receber alta do hospital, depois de ter passado quatro meses em coma, tendo terríveis sequelas como resultado, mãe e filho se mudaram para outra cidade. Uma pequena cidade totalmente desconhecida e pacata. Aparentemente pacífica. Nessa cidade estava a premissa de que depois de muito sofrimento, a vida daqueles dois seria tranquila. Mas será que naquela pequenina cidade, também não tinha monstros assim como os monstros da Rua Ricchie?
Fim
Valeu a visita, BOA SEMANA CARLOS
ResponderExcluirTerrível!
ResponderExcluirQuase não consegui ler...estou com o coração apertado. O caso é verídico? Perdão perguntar, não li desde o princípio e acho que aqui é só a parte final.
Amigo, estive um tempo ausente e agradeço por continuar me acompanhando. Beijos.
Mery!
ExcluirAcredite ou não, de quase tudo que escrevo aqui, há um pouco de verídico e esse conto é um bom exemplo. É um fato verídico porém com personagens e cenários diferentes. Coisas assim não é muito difícil de acontecer, Afinal, monstros existem... E são muitos!
E em relação a não ter lido tudo. Quando puder fique à vontade para voltar e ler o começo tá?
Te aguardo e estou muito contente com sua volta! O teu blog é o que faz valer a pena dedicar um tempo para apreciar a blogosfera!