"De fato, nem tudo é o que
parece. E o que mais assusta é quando descobrimos que estamos em meio a tantas
frutas podres por dentro, porém vestidas de belas cascas brilhantes..."
Parte 1
Ele tinha um estranho olhar que assustava a todos ao seu
redor. Desde que nasceu, todos aqueles que o viram abominaram o fato de uma
criança ter nascido com aquela aparência. Os moradores da Rua Ricchie eram em
sua maioria nem pobre nem ricos; eram simplesmente pessoas com condições
suficientes para sobreviver normalmente até o fim dos dias. Porém, essas mesmas
pessoas reclamavam de uma inexistente pobreza proveniente de doentias ambições
materiais. Estamos falando aqui de pessoas invejosas, arrogantes e mesquinhas
que estavam insatisfeitas com a adequada vida que tinham. Gente desse tipo,
facilmente encontrava um motivo para descontar nos outros suas frustrações e
desgostos. E nesse caso, a vítima era o pobre menino de olhos graúdos. Grandes
olhos, penetrantes e assustadores que o faziam parecer uma criatura não desse
mundo, mas de um mundo de histórias ficção e horror.
Monstrinho, esquisito, cão do diabo, cara de zumbi... Foram
tantos os apelidos desagradáveis que criaram para o desventurado garoto. E hoje
com doze anos ele vive sozinho com sua mãe Ana Tereza. A única que conseguiu
suportar todas as humilhações que o povo daquela rua tinha causado em razão da
estranha aparência que criança tinha. Uma mulher que assim como a maioria dos
moradores, era dona de condições adequadas de vida. Mas ao contrário de seus
avarentos vizinhos, ela jamais havia reclamado do que tinha. Assim era Ana. Jamais
se deixou abalar; mesmo quando seu marido a deixou alegando não aguentar mais
aquela vida pacata e sem sentido. Uma miserável mentira, pois o verdadeiro
motivo da separação foi por ele não ter coragem de assumir um filho no qual desde
o nascimento estava destinado a ser chamado de monstro. O menino, mesmo diante
de tamanha repulsa e desprezo, jamais reclamou por ter nascido daquele jeito.
Porém, a tristeza causada pela falta de um amigo, um gesto afável, uma
gentileza ou uma simples palavra bondosa que fosse de outra pessoa além de sua
mãe o impedia de sorrir. Certa vez, antes de ir dormir, ele indagou a sua mãe:
― Mamãe por que as outras
pessoas da rua têm tanta raiva de mim? Eu sou tão feio assim para deixar eles
com raiva ou medo?
— Não meu filho! Eles são
pessoas que infelizmente ainda não entenderam que o fato de alguém nascer
diferente não significa que esse alguém deve ser tratado diferente. Todos têm
os mesmos direitos...
Depois da pequena
conversa, ela saiu lentamente do quarto e quando estava prestes a fechar a
porta ela ouviu:
― Quando chegar o dia em
que olharem para mim como alguém e não como uma coisa, vou me sentir no paraíso.
Ouvindo essas palavras,
ela apenas pode esconder suas lágrimas e dizer as únicas palavras que um grande
nó na garganta a permitia dizer:
― Vai sim...
No dia seguinte, Ana
saiu bem cedo para compara pão. Quando saiu, seu filho ainda dormia. Era
sábado, um dos dias preferidos da semana principalmente para as crianças. Tal
cena marcava mais uma comum manhã de sábado como qualquer outra. É, seria uma
como qualquer outra se não fosse pelo que se sucederia não muito depois.
Continua...
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